Sobre Agradecer – Obrigada enfermeira Matilde Almeida Guerreiro

2019 não podia ter começado da pior forma. Uma gripe tramada não me larga desde o início do ano e levou-me às urgências do hospital São Bernardo em Setúbal. Era 1h30 da madrugada sentia-me com muita falta de ar, uma tosse que me despedaçava a cabeça e corpo e não hesitei. Sabia que não podia ser “apenas” gripe, tinha de ser algo mais.

Estava um frio horrível, apanhei 0 graus ao longo do caminho. Cheguei às urgências e a sala de espera vazia, também quem vai ao hospital aquela hora? pensei. 
Fiz a triagem e encaminharam-me directamente para uma sala de tratamentos onde contei 19 pessoas, maioritariamente idosas, a receber oxigénio com recurso a máscaras, umas sentadas, outras em macas e aquilo pareceu-me um género de apocalipse. 
Eu sou facilmente impressionável, odeio hospitais, choro com agulhas, sou super sensível à dor, desmaio quando vejo sangue e sinto-me miserável nestes ambientes. 
Estive muito tempo naquela sala a observar tudo o que se passava, ouvia as lamurias das pessoas, queixavam-se com dores, com falta de ar, e do tempo que estavam ali à espera, umas desde as 21h, outras desde as 17h e eu pensei que aquela hora não ia ser atendida nunca.
Naquela sala havia uma pessoa que era o centro da minha atenção. Uma enfermeira de um profissionalismo incrível, carinhosa, muito dedicada e do mais humano que já conheci. Ela andava de um lado para o outro a acudir às várias situações pendentes e eu via-a com uma capa de super heroína! Pouco tempo depois de eu chegar à sala ela lembrou-se que as pessoas estavam ali há horas e que certamente tinham fome. Foi buscar comida e distribuiu pelos doentes da sala, a senhora da ponta queria Nestum, ri-mos. Queques, bolachinhas, leite ou fruta ainda se arranja agora Nestum numas urgências de hospital é um pedido equivalente a uma mariscada.
Entretanto o Sr. Manuel acabou o seu tratamento eram 3h mas não tinha ninguém na sala de espera que o levasse para casa, a enfermeira ligou para familiares mas ninguém atendeu, emocionei-me. Isto deve ser a situação mais banal numas urgências de hospital, mas a cara de tristeza do Sr., aquela impotência, o não saber ir para casa despedaçou-me. Mas a super heroína rapidamente arranjou um maca e deitou o S. Manuel no corredor para passar a noite, tapou-o com uma mantinha e disse-lhe “Sr. Manuel vai passar a noite connosco, pode descansar que o seu filho de manhã vem buscá-lo”. Se isto não é amor pelo próximo, não sei o que será.
Fui atendida. Mandaram-me fazer RX, análises e ainda tive direito a medicação intra-venosa. Para quem tem fobia a agulhas nada mau.
No caminho para o RX um auxiliar encaminhou-me por corredores e corredores apinhados de pessoas em macas, “isto é um pesadelo”, exclamei. Respondeu-me que aquilo não era nada, que estava a ser uma noite muito calma e tranquila. Contou-me que em Dezembro quando as urgências de Almada e Barreiro fizeram greve isso sim era um pesadelo. Não consigo imaginar o cenário. O que eu estava a ver para mim já era suficientemente caótico, não havia 1 metro disponível sem macas. 
Fiz tudo o que o médico mandou e restou-me aguardar novamente na sala do pânico. Naquele momento uma velhota decidiu fazer uma gritaria gigantesca, pensei que a estavam a amputar ou algo do género, mas não, estava só descontrolada e novamente a enfermeira Matilde entrou em ação para tentar acalmar a senhora. 
Enquanto esperava pelos resultados dos exames fiz medicação intra venosa e fiquei em pânico quando a enfermeira disse o que ia fazer-me. Avisei-a que odeio agulhas e ela foi tão querida que na verdade mal senti a espetadela. Chorei novamente!
Saí daquelas urgências às 5h com diagnóstico de pneumonia e ordem de repouso para 6 dias. Dirigi-me à enfermeira Matilde Almeida Guerreiro e disse-lhe: “Obrigada pelo seu profissionalismo é muito humana”, e ela ficou sem saber o dizer. Deve ser tão raro alguém agradecer e reconhecer o trabalho que presta que ficou sem palavras. 
Adorava que este texto chegasse à enfermeira Matilde e a todos os profissionais que trabalham diariamente no setor da saúde, enfermeiros, médicos, auxiliares, etc, simplesmente para agradecer o trabalho que desempenham nas unidades de saúde do nosso país, 24h por dia, 7 dias por semana.
É preciso ter muita vocação e coração. 
Obrigada.