As nossas manhãs são uma espécie de combate de wrestling é a pior parte do dia e adorava ter uma solução milagrosa para torná-las mais suportáveis.
O dia começa harmonioso por volta das 7h00. Pai e mãe tentam despachar o máximo de tarefas pois sabem que quando o Adamastor acorda acaba-se a serenidade no lar.
O terror dos mares desperta pelas 7h30 (nem tudo é mau antes acordava às 6h00). De ar meigo e voz doce dá beijinhos a todos e exige o seu leitinho com papa na sala. Coisinha mais cutxi de sua mãe. Quer ver a Patrulha Pata. É fã destes cães e em parte são eles que nos têm ajudado muito a tornar a manhã menos penosa.
O mais piqueno também acorda e recebe a recompensa por só ter acordado 29 vezes aos berros durante a noite. Safado, era um anjo.
É hora de vestir o mais velho. Calçamos as luvas, vestimos o maillot abichanado, inspiramos profundamente e que comece o primeiro round.
Iniciamos com um Irish Whip na tentativa de lhe sacar o pijama ordeiramente, o que nunca acontece. Segue-se um escape roll e um flair flop enquanto lhe enfiamos à força todas as peças de roupa. “Está apertado, tem uma coisa, tem mangas, não quero este, não, não, não”, berra desalmadamente.
Está vestido e suspiramos. Vamos à nossa vida e quando voltamos começa o second round. Decidiu andar descalço ou despiu-se, repetimos todas as técnicas de grappling até vencer o combate.
Entretanto a adrenalina está aos píncaros no nosso corpo e ainda são 8h da manhã.
Falta vestir o mais piqueno que durante a batalha distraiu-se com qualquer coisa que apanhou pelo chão. Tem cocó até às axilas e digo asneiras feias enquanto me pergunto porquê meu Deus? Porquê eu? Tento tirar-lhe o body sem espalhar demasiados resíduos pelas costas e cabelo, tarefa inglória. Todo ele é cocó e precisa de banho.
São 8h30, é hora de sair de casa. Ainda falta calçar, vestir o casaco, pentear e fazer a higiene básica do mais velho.
– “Salvador, vamos embora”
– “Não. Quero ver a Patrulha Pata”
– “Podes levar bolachinhas para os amigos” – replico numa tentativa de o convencer
– “Quero estrelitas”. Estúpida, nunca acerto.
– “Anda, larga os Legos”
– “Não quero ir para a escola”
– “Vou-me embora e vais ficar sozinho”
– “Está bem”
Caramba, que pestinha mais tramado.
Lá o convenço e segue-se o terceiro round. Tento calçar as botas e vestir o casaco. Eu visto, ele despe. Eu calço, ele descalça. É desesperante.
Novo drama para apertar o cinto da cadeirinha. Está sempre apertado para o meu comichoso lindo.
Novo drama para apertar o cinto da cadeirinha. Está sempre apertado para o meu comichoso lindo.
Finalmente chegamos à escola e removo os últimos vestígios de remelas e babas com o meu próprio cuspo.
Rejubilemos, amanhã há mais.